posam para foto, juntamente com seus instrumentos.
O Grupo Percussivo Baque Alagoano surgiu a partir de uma oficina de percussão ministrada pelo músico e artesão Wilson Santos, no Cenarte, em Maceió. A oficina reuniu pessoas de diversas idades e profissões que tinham em comum a necessidade de um espaço onde pudessem batucar e trocar idéias sobre os ritmos populares da região Nordeste: Maracatu, Coco (ou pagode alagoano), Baianas de Alagoas, Bumba-meu-boi, Guerreiro Alagoano, entre outros.
Logo nos primeiros encontros percebemos a necessidade de unir esforços em torno da formação um grupo de percussão. A idéia era fazer com que o entusiasmo rompesse os portões do Cenarte e sensibilizasse outras pessoas quanto à importância da cultura popular e afro do nosso estado e do nordeste. Assim, começamos a nos reunir periodicamente para concretizar nosso objetivo.
O grupo faz uma verdadeira incursão pelos ritmos da cultura popular e afro-nordestina. A maioria dos instrumentos utilizados pelo grupo são confeccionados artesanalmente pelo percussionista Wilson Santos o que proporciona identidade sonora e uma estética personalizada. O trabalho de pesquisa e criação musical já resultou na produção de obras inéditas.
Com raízes fincadas na cultura popular regional, o grupo procura fazer uma releitura dos ritmos tradicionais alagoanos respeitando a tradição e com consciência dos efeitos transformadores da contemporaneidade. A batida forte e contagiante dos tambores de som grave é característica marcante do Baque Alagoano. Além das alfaias, o grupo utiliza o agogô, o xequerê, o Gonguê, o atabaque, o djambê, e outros instrumentos de percussão pertinentes a nossa cultura.
A proposta vai além da pura combinação de batuques em sala fechada, periodicamente o grupo realiza ensaios abertos com o objetivo de divulgar os ritmos regionais para um público mais abrangente. Voltado para a pesquisa do desenvolvimento histórico e antropológico de nossas raízes musicais, o grupo tem conseguido levar aos locais onde tem se apresentado um verdadeiro resgate de valores e símbolos da nossa musicalidade atemporal. Além disso o grupo pretende formar multiplicadores do processo de ensino das técnicas percussivas e da confecção artesanal de instrumentos musicais.
Fazemos parte de um território fortemente marcado pela cultura negra o que faz de Alagoas um celeiro de manifestações afro-culturais – como se pode constatar na obra o “Folclore Negro Alagoano” de Abelardo Duarte. Cientes da imensa força simbólica de tal pertencimento cultural acreditamos que a cultura tradicional é capaz de elevar a consciência e a auto-estima, além de contribuir para melhorias nas condições de vida da população.
O fato é que a influência da Cultura Negra está disseminada em nossa alagoanidade, o esforço de reconhecê-la é importante para se evitar preconceitos e atenuar a invisibilidade das manifestações que apesar do processo histórico e inúmeras tentativas de extinção ainda se faz presente, orientando nossos costumes e crenças.
Maracatus, afoxés e outros ritmos afro sempre estiveram presentes nos terreiros de Xangô e Candomblé, em Alagoas estas manifestações foram praticamente extintas juntamente com os terreiros após a infeliz ação conhecida como “o quebra de Xangô”, chamada também de “operação Xangô”, ocorrido em 1912. A invisibilidade da Cultura Afro em Alagoas também é justificada por esse lamentável acontecimento que envergonha a todos nós[i].
O Grupo de Percussão Baque Alagoano tem a intenção de contribuir e promover ações que posam reverter o quadro de invisibilidade que ainda assola a Cultura popular e afro-alagoana. Acreditamos na força revolucionaria e educacional da cultura de nossa região. Nesse intuito estamos constituindo a Associação Cultural Tambores de Alagoas que reúne o Baque Alagoano e a Orquestra de Tambores de Alagoas e nos reunimos periodicamente para refletir e encontrar formas de desenvolver ações que possam promover a diversidade e celebrar a igualdade, tendo o batuque dos tambores como o elemento propulsor das atividades e reflexões.
Atualmente o Baque Alagoano possui cerca de 40 membros, tendo à frente o Mestre Dalmo dos Santos e como Coordenador Rômulo Fernandes. O grupo ensaia todos os sábados, às 15h, na Ponta da Terra, no campo de treinamento do CRB. Estamos abertos a qualquer pessoa interessada em contribuir neste cortejo percussivo.
Axé.
Christiano Barros
[i] Cavalcanti, Bruno César. “Bons e sacudidos” – o carnaval negro e seus impasses em Maceió.
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