quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Muito mais do que tocar Maracatu

Por quase um mês o blog do Maracatu Baque Alagoano vem divulgando o passo-a-passo da preparação do grupo para o Jaraguá Folia 2011. Sempre em tom de descontração e alegria, tentamos passar ao leitor as sensações que permeiam o cotidiano de quem dedica parte da sua vida à cultura.

Contudo, às vésperas do Jaraguá Folia 2011 e de mais um cortejo do Maracatu Baque Alagoano, aproveitamos o momento para uma reflexão. Um chamamento para que cada qual dê aquele suspiro profundo. Do tipo que se faz para reduzir a tensão antes da entrada em cena.

Porque, amanhã (25/2) quando o Baque Alagoano apresentar aos alagoanos toda a beleza e o peso do Maracatu, os cinquenta percussionistas e dançarinos do grupo não estarão apenas "divertindo" os expectadores. O Baque estará resgatando parte da história do povo de Alagoas e contribuindo para a formação de uma identidade própria.

É que a cada batida da alfaia, a cada toque do gonguê ou a cada chacoalhar do xequerê estaremos revivendo os cortejos rituais das "Coroações de Rei de Congo". Ao mesmo tempo, estaremos demonstrando que mais de um século depois, às liberdades de credo e manifestação dos negros ainda permanecem mercê do preconceito e da "benevolência" das elites dos nossos dias, assim como o eram a escolha e a coração dos reis dos negros escravizados.

Junto ao grupo homenageado, a Nega da Costa, o Baque reviverá o fatídico momento do "Quebra de Xangô" ocorrido em 1912. O momento da manifestação da prepotência dos setores que historicamente dirigem Alagoas e que, escravagistas que foram, ainda mantém trabalhadores de nossos dias sob o julgo do "trabalho análogo ao de escravos" (termo da legislação moderna para o trabalho sub humano), porque ainda com poderes de vida e de morte nas senzalas contemporâneas.

Portanto, como bem escreveu o percussionista Wilson Santos, "o encontro destes fatos não propõe o resgate de elos perdidos no tempo". Porém tomar consciência deles, ainda citando Santos, nos permite "reinventar e reescrever a história futura baseados em fatos concretos e no auxílio da intervenção artística".

Oxalá! E como canta lindamente a Rose Mendonça, do vocal do Baque Alagoano, "Ó Pai eu vos peço, Senhor, proteja o meu Maracatu"! E a toda nossa gente.

É AMANHÃ MEU POVO, O JARAGUÁ FOLIA 2011

2 comentários:

  1. Isso tudo é uma grande verdade e faz parte da nossa história. O resgate se faz necessário!!!
    Parabéns MARACATU BAQUE ALAGOANO!!!

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  2. MARACATU DO MUNDO

    Para Mãe vera, Tia Marcelina e Mãe netinha,

    Quase todos os estudiosos que escreveram sobre os maracatus pensaram ser possível encontrar suas origens. A idéia de origem pressupõe que tenham surgido de um ponto único, em uma perspectiva de historia linear, com começo que pudesse ser conhecido. Este ponto original seriam as festas de coroação dos reis e das rainhas do Congo, em que um negro e uma negra de nação angola, e pertencentes à irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, eram eleitos para comandar seus confrades de modo geral. As festas que acompanhavam esta eram constituídas de batuques, desfiles do rei e da rainha eleitos. No entanto, os maracatus são resultado de constantes adaptações e recriações de práticas antigas, não sendo possível determinar onde nem como começaram.
    Sabe-se que na segunda metade do século XIX existiram grupos variados conhecidos como maracatus, porém pouco mais se conhece a respeito.
    Usariam os mesmo instrumentos de hoje? Suas fantasias e o ritmo que os embalavam eram semelhantes ao que vemos e ouvimos atualmente? As noticias de jornal daquela época só indicam que os maracatus eram fortemente rejeitados pelas classes sociais mais altas e perseguidos pela policia, ao contrario dos dias de hoje, em que são festejados e proclamados como dos maiores símbolos da cultura nordestina.
    Para aqueles que continuam acreditando que os maracatuzeiros apenas mantêm uma tradição supostamente inalterada, basta lembrar que as fotos mais antigas das damas de corte dos maracatus, notadamente as de Dona Santa (rainha d o Maracatu Elefante entre as décadas de 1930 e 1960), mostram fantasias bem diferentes das atuais.
    Portanto salve a criatividade e liberdade de expressão que inunda as cabeças, pernas, braços e coração dos batuqueiros e batuqueiras do nosso amado torrão.
    Viva o Tambor e a livre criação
    (Texto extraído da revista Historia Nº 29)
    Autor: Ivaldo Marciano de França Lima

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