sexta-feira, 20 de novembro de 2020

 

Foto de Waldson Costa.


Durante os 13 anos de existência do Baque Alagoano, o dia 20 de Novembro sempre foi um momento de celebrarmos com muito maracatu todas as conquistas e lutas históricas do povo preto. Era uma data mais especial ainda para mostrarmos reverência a todas e todos que resistiram ao longo de séculos para que nossos instrumentos pudessem ressoar hoje.


E hoje amanhecemos com a notícia que mais um homem preto apanhou até a morte, assassinado por pessoas que tinham uma função de “ordem e poder”, que se sentiram seguros em conduzir uma sessão de espancamento em um supermercado, acompanhada e registrada de perto por outra pessoa que não se incomodou com tamanha barbaridade. É difícil escrever diante de uma situação dessas, nos coloca imediatamente pensando no que mais aconteceu nessa madrugada que não foi filmado ou noticiado. E mais: nos comovemos facilmente com o caso do George Floyd, nos EUA, mas no Brasil a "cultura que mata preto" acontece todos os dias e não causa tanta comoção. Qual a diferença?


Na cultura, vivemos mais um ano em que a Fundação Palmares segue sequestrada e ataca grandes personalidades negras brasileiras.


“Esse canto que devia ser um canto de alegria, soa apenas como um soluçar de dor” (Clara Nunes, O canto das três raças)


Este ano, a pandemia nos afastou da nossa batucada, mas a necessidade de lutar contra toda injustiça e violência sofrida pela negritude se mostra cada vez maior e mais presente. 


“Preconceito sem conceito que apodrece a nação

Filhos do descaso mesmo pós-abolição

Mais de 500 anos de angústia e sofrimentos

Me acorrentaram, mas não meus pensamentos” 

(MV Bill, Só Deus pode me julgar)


Milhões de pessoas foram às ruas, em todo mundo, para gritar que “Vidas Negras Importam” e para exigir o fim do extermínio preto. Milhões de pessoas foram às urnas em diversas cidades brasileiras e elegeram pretas, pretos, indígenas e conhecidos batalhadores e batalhadoras pela cultura, educação e direitos humanos.


“Como falar de meritocracia, num país que mata um menino de 14 anos que só queria estudar, dentro de casa?” (Silvio Almeida) 


Por isso celebraremos hoje e sempre Gilberto Gil, Elza Soares, Milton Nascimento, Martinho da Vila, Leci Brandão, Mestre Walter, Lia de Itamaracá e tantos outros grandes nomes da cultura brasileira!


“A carne mais barata do mercado é minha carne negra.

Que vai de graça pro presídio e para debaixo do plástico,

Que vai de graça pro subemprego e pros hospitais psiquiátricos.

A carne mais barata do mercado é minha carne negra.

Que fez e faz história segurando esse país no braço.” (Elza Soares, A Carne)


Vidas negras importam!


Viva Zumbi! Viva Dandara! Viva Aqualtune, Acotirene, Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalez, Carolina de Jesus, Professor Zezito Araújo, Ganga Zumba, Mestre Môa, Tia Marcelina e Mãe Vera!!!


Que o Dia da Consciência Negra traga reflexão crítica e reverbere para todos os dias do ano, vez que a luta contra a estrutura racista da sociedade e a opressão deve ser diária, da mesma maneira que a luta para a ascensão do povo preto em todas as camadas.

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