domingo, 4 de maio de 2008

Presente de 13 de Maio

Imagem de duas crianças, uma negra e uma branca,
em comunidade quilombola
(Foto de Christiano Barros)

15/05/2008
Feios, sujos e malditos
Edson Lopes Cardoso
Todo mundo quer raspar a cabeça de Ronaldo, inclusive ele.
A Folha informa (edição de 14.05.2008, p.D5) que Ronaldo foi entrevistado por Ana Maria Braga, da rede Globo, que pretendia raspar o cabelo do atleta durante o programa. Ronaldo definiu seu cabelo como “quase ruim” e disse que mantém a cabeleira por força de contrato publicitário. O jogador faz propaganda de produto suíço de combate à calvície. Ainda segundo a sucursal do Rio da “Folha de S. Paulo”, o jogador teria dito que não usa o penteado ‘black power”, porque seu cabelo não é ‘ruim’ o suficiente. Pobre Ronaldo.Na reportagem do ‘Correio Braziliense’, não há nenhuma alusão a cabelo, exceto que Ana Maria Braga, (denominada ‘a loura’ pela reportagem do Correio) passou a mão nos cachos do jogador e disse: ‘Nossa, que gostoso! O que você passa para ficar macio desse jeito?”.
Eu não assisti ao programa, não sei ao certo como as coisas rolaram. Sei, no entanto, que para conhecer a si mesmo Ronaldo precisaria conhecer uma história, que foi apagada do mesmo modo que pretendem fazer (ele inclusive) com o seu cabelo.
Sartre diz que Hegel disse que uma coletividade é histórica na medida em que tem memória de sua história. Que memória de si, e dos seus, Ronaldo pôde conservar na qual não se visse portador de atributos negativos?
Zuenir Ventura e Ana Maria Braga (segundo a Folha) manifestaram não uma fantasia ociosa, mas o autoritarismo de quem, de um lugar muito superior, decide como o outro devia apresentar-se para ser tolerado. Vá raspar a cabeça e volte aqui, moleque. Para obedecer a exigência desses deuses, Ronaldo vai ter que aguardar o fim do contrato publicitário. Os deuses entendem isso.
O professor Natalino Dantas, com sua ciência, invade a cabeça dos negros e conta os neurônios minguados, sua disposição mental, o primitivismo de sua cultura. Zuenir Ventura e Ana Maria Braga ficam na superfície da cabeça, mas, possuídos da mesma convicção preconceituosa, enxergam igual lacuna entre a natureza humana (a dos brancos) e a subumana, a dos negros.
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