quarta-feira, 9 de março de 2011

Aconteceu nas prévias do carnaval do Maracatu Baque Alagoano


As prévias carnavalescas de Maceió são, sem dúvidas, um dos grandes momentos para o qual o Maracatu Baque Alagoano se prepara o ano inteiro. Para o evento, o grupo prepara repertório, figurino, arranjos e programação novos todos os anos. É o mínimo que se pode fazer por quem almeja ver à cultura alagoana em destaque.

Em 2011 não foi diferente. O Baque Alagoano trabalhou duro e com muito afinco para garantir o sucesso do Polo do Baque no Jaraguá Folia que ocorreu na sexta, 25/2. E por mais que se diga que não se deve misturar trabalho com prazer, as expressões e os depoimentos de cada um dos integrantes do Baque Alagoano jogaram por terra esse princípio. Eles fizeram bonito, mas também se divertiram a valer.

No Polo, o palco com as cores da bandeira de Alagoas somou-se a decoração em estilo afro idealizada pelo Arquiteto Beto Canavarro e pelo Produtor Cultural Pablo Young. O ambiente também ganhou mais vida com a iluminação à altura do evento. O cenário perfeito para tudo de melhor que foi apresentado ao público presente.

A noite começou com a apresentação do Bumba-meu-boi "Lobo da Noite". Sob a regência de Dalmo dos Santos, que também é o Mestre do Baque Alagoano, a garotada mostrou que sabe valorizar às suas tradições e respeitar as suas raízes.

E no "rastro do boi", o grupo Poesia Musicada no Pandeiro abriu a sua participação cantando "Boi da Cara Branca", uma composição do Rogério Dias, que também é vocalista da banda. Tocando o nordeste e, em especial Alagoas, o Poesia botou o povo para dançar embalado pelas rimas de Jorge de Lima e de outros poetas. De alma lavada, o grupo mostrou que as Alagoas de quem promove a resistência cultural "são outras".

Sai a "poesia musicada", entra em cena o samba no pé da Escola de Samba Unidos do Poço. Outro belíssimo exemplo da resistência popular pela manutenção das suas tradições. Com pouquíssimos recursos, mas com muita determinação, a Agremiação fez todo mundo sambar.

Mas, o Largo é do Poeta e é lá que "o bicho pega". Comandado pelo artista plástico Aquiles Escobar, o Bloco "Jaraguá é o Bicho" deu um show de criatividade e de carnaval "politicamente correto". Escobar somou a animação do seu tradicional bloco, fantasias e alegorias feitas de material reciclável. O Bicho tocou frevo e samba-reaggae dando movimento aquele mar de cores fortes e vibrantes. Bonito de se ver!

Foi, então, a vez do grande homenageado da noite, o Grupo Folclórico Nega da Costa. Uma energia de arrepiar. E tudo contribuía para isso. Primeiro, o resgate histórico dos escravos negros que se trajavam de mulher para proteger as suas esposas, filhas e irmãs do assédio dos seus senhores. Depois, pela tragédia que acometeu os moradores de Quebrangulo/AL após a enchente que destruiu vidas e sonhos. E por fim, pela alegria contagiante dos membros do grupo que "pisaram com força" na batida do som característico daquele importante folguedo alagoano.
A constatação de que a homenagem do Baque Alagoano foi necessária ao resgate do grupo, segundo a Coordenação da Nega da Costa, garantiu aquele arrepio extra na espinha.

O Baque

Após essa sequência de fantásticas apresentações, uma grande responsabilidade foi jogada por sobre o Maracatu Baque Alagoano, igualar-se a tudo de bom que antecedeu o grupo. Mas, emocionados e empolgados com a força da Nega Costa, os integrantes do Baque Alagoano mostraram porque o grupo vem crescendo ano após ano no cenário cultural alagoano.

Bastaram os primeiros rufos ao comando do Mestre Dalmo para o Largo dos Pombos ficar pequeno para o público que começou a chegar de todas as partes. "Senti logo um arrepio ao ver aquela gente toda tomando conta do Polo", declarou a Rose Mendonça que assistiu a tudo de cima do palco. Mendonça é uma das vocalistas do Baque Alagoano e, ainda de acordo com ela, "difícil mesmo foi conter ás lágrimas".

Contudo, se a Rose conseguiu conter o choro, o mesmo não aconteceu com o Mestre Dalmo dos Santos. Ele foi às lágrimas quando, na sequência dos agradecimentos por sua paciência, o Rômulo Fernandes cantou: "Mestre Dalmo conduz o batuque guerreiro. Traz no corpo e na alma a força do povo negro". A Loa "Estrela Radiosa" foi composta por Marcelo Melo, outro membro do Maracatu Baque Alagoano, e faz uma justa homenagem ao Mestre do Baque.

Aliás, "emoção" foi a palavra mais utilizada pelo público para definir a apresentação do Baque Alagoano. Porque com a expressão "foi emocionante vê-los", o Professor da Universidade Federal de Alagoas, Eduardo Lyra, afirmou, ainda, que "o Baque em Jaraguá consolidou às prévias de Maceió". Lyra é também fundador do Bloco Pinto da Madrugada que arrastou cerca de 100 mil pessoas pela orla de Maceió no sábado, 26/2.

Já a Jornalista Josi Calado misturou indignação a sua emoção. Para ela, o Polo do Baque Alagoano "fez uma pequena mostra da potencialidade cultural de Alagoas". Calado afirmou que o Polo "faz perceber a riqueza cultural que temos, mas que não é dada a devida atenção".

Na mesma linha emotiva, a pernambucana Kátia Katarina escreveu ao Baque: "eu estava lá e AMEI...(sic)como boa pernambucana fiquei emocionada".

Agora, é aguardar 2012. Mas, até lá, quem quiser pode fazer parte dessa história. Estão abertas as inscrições para a oficina 2011.1 do Baque Alagoano (ver flayer ao lado).

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