Coroação de Reis do Maracatu

Ritual é iniciativa importante no processo de ressurgimento e fortalecimento do maracatu em terras alagoanas

No próximo dia 18 de novembro, uma sexta-feira, acontecerá na capital alagoana na Igreja Nossa Senhora Mãe do Povo no bairro do Jaraguá, a Cerimônia de Coroação do Maracatu Nação Acorte de Airá. Um momento histórico para o maracatu alagoano, por ser um ritual que há muito deixou de ser realizado por aqui e que agora será retomado, e que contará com a presença do Maracatu Baque Alagoano e de diversos convidados.


Há relatos da existência de maracatus em Alagoas que datam do inicio do século passado, da sua presença nas ruas das nossas cidades durante festejos e celebrações, como também da sua relação com terreiros e práticas religiosas de matriz africana.


Também é fato em nossa história o cerceamento ostensivo e violento à época a essas manifestações, patrocinado por setores da sociedade e do governo, que culminou em fevereiro de 1912 com a brutal intolerância racial e religiosa que ficou conhecida como  “O Quebra de Xangô”, que foi o desmantelamento de todos os terreiros da cidade, com o massacre deixando marcas profundas na cultura local.


Outra curiosidade é que não há registros de Cerimônias de Coroações dos reis de Congo em Alagoas, talvez pelo caráter marginal que foi atribuído a estes, dificultando assim a documentação ou registro dos mesmos.

Diversos estudos apontam que a origem dos maracatus está ligada à Instituição Mestra ou Instituição do Rei do Congo. Esta instituição teria vigorado a partir do séc. XVII em todo o território nacional. Através dela, a Coroa Portuguesa permitia a eleição e coroação de reis e rainhas negros. Tais coroações eram também vinculadas à Igreja Católica, que organizava as cerimônias através das Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e de São Benedito. Os rituais de coroação aconteciam no dia de Nossa Senhora do Rosário em frente às Igrejas, presididos por um padre. (Aline Valentim)


A Cerimônia de Coroação do Maracatu Nação Acorte de Airá, que acontece neste 18 de novembro, é um demonstrativo do ressurgimento e fortalecimento do maracatu em terras alagoanas, fruto em muito da contribuição dos grupos existentes e de pesquisas e discussões em torno do assunto.

Fonte:

Bons e Sacudidos - Carnaval Negro e seus impasses em Maceió - Bruno Cesar Cavalcanti (Professor de Antropologia e pesquisador no Laboratório da Cidade e do Contemporâneo (LACC) do Instituto de Ciências Sociais, Universidade Federal de Alagoas)

"Não sei como meu maracatu começou, mas vou até o fim." (Chico Buarque) - Aline Valentim