quarta-feira, 4 de abril de 2012

O FANTÁSTICO ROCK MARACATU

por Júlio César Andrade*

O FANTÁSTICO ROCK MARACATU

No começo não foi fácil assimilar. Somos sim capazes de cativar e arrancar sorrisos e aplausos da platéia, inclusive daqueles que nem entendem muito bem o que estão vendo e ouvindo. Mas daí a misturar a ancestralidade do nosso renascido maracatu com a pulsação urbana do rock, é demais. O que esperam de nós? Qual a sede deste povo que pede até que transmutemos nossa musicalidade? Dúvidas. Lembremos da nossa trajetória, então, cheia de questionamentos, desafios, e muitas vezes oprimida pela verdadeira adoração que hoje impera ao que é chulo e promíscuo. Abrimos uma fresta nestas barreiras, uma fresta bem considerável na inércia da cultura alagoana, capaz de passar com folga o nosso grupo e todo o cortejo que vem se formando ao longo destes anos de trabalho e dedicação. Lembremos, também, que ao atravessar este portal, a expectativa popular e a responsabilidade da divulgação e manutenção da cultura alagoana cairam sobre nossos ombros. E quando se fala em popular, se fala em todos os níveis, em todas as camadas da sociedade. Não há retorno. Se não há retorno, não há dúvida, então. Um projeto ousado, inteligente e inédito capaz de contribuir para a reinvenção da nossa história cultural será sempre bem-vindo nesta terra futurosa. E ainda mais se este cair nos braços do Maracatu Baque Alagoano! Quando nos deparamos com um projeto assim, somos capazes apenas de vislumbrar o seu início, porque depois de sua explosão inicial tudo ao seu redor se transforma positivamente e ganha vida própria, numa dinâmica estonteante capaz de fazer girar tudo o que se considerava estático e determinado. E o fantástico Rock Maracatu explodiu como se uma estrela supernova detonasse a orla da praia de Pajuçara, com uma energia sonora e um brilho que durará meses nos tímpanos e nas retinas daqueles que foram privilegiados durante a sua gênese! Uma multidão extasiada se formou ao redor do seu cerne acústico, passando da incredulidade para a admiração, e permaneceu orbitando loucamente horas após o fim do fenômeno, genuinamente impossibilitada de sair do lugar. Não é exagero comparar o Rock Maracatu com uma supernova, pois a fusão destes dois ritmos alucinantes foi sendo adensada ensaio a ensaio, num processo de concentração crescente de energia pura e sentimentos humanos latentes dos mais diversos, resultando num núcleo instável, pulsátil e brilhante, pronto para se romper positivamente e despedaçar toda e qualquer estrutura pré-concebida, lançando seus fragmentos acústicos e artísticos em lugares ainda inexplorados da cultura alagoana. Fernanda Guimarães e o seu vigor sonoro intrinseco deu a ignição que faltava e o resto todos já comentam na cidade de Maceió. A supernova Rock Maracatu já explodiu uma vez, é um fato; e os sobreviventes desta hecatombe falarão dela por muito tempo. Mas, algo ficou perceptível no ar, após a explosão. Quem foi mais atento percebeu que muitos corpos celestes que se agruparam no Lopana e cercanias foram atingidos pesadamente em seu arcabouço durante aquela noite e, raramente, este fabuloso fenômeno artístico-cultural não acontecerá novamente em Alagoas. Prepare-se.

*Julio César - Sócio-Fundador do Maracatu Baque Alagoano

2 comentários:

  1. Foi fantástico, parabéns! Precisamos de mais Rock Maracatu!

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