quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

2 de fevereiro: dia da luta contra a intolerância religiosa

2 de fevereiro: dia da luta contra a intolerância religiosa
(*) Lwdmila C. Pacheco

Dizem que o brasileiro não tem memória por não conhecer sua própria história e as consequências dela para os dias de hoje. Se assim o é, uma das partes mais afetadas por essa perda de memória é esse lado de cá do nordeste, Alagoas.

Somos um Estado-paraíso de belezas naturais, mas um caos no que diz respeito às atividades tocadas pela administração humana. Há décadas somos governados, encabrestados pelas mesmas famílias das quais passamos anos reclamando e, na hora de votar, já estamos condicionado a clicar naquela mesma tecla.

Passamos a vida sem saber quem somos, e essa alienação histórica nos mantém estagnados sócio-culturalmente. Dentre vários eventos históricos que marcaram nossa trajetória e que prova que não é de hoje que tentam nos calar e nos reprimir, temos a chamada Operação Xangô. Até início do século 20 éramos um dos Estados com maior quantidade de casas de Xangô do Brasil; tínhamos, segundo pesquisa do IBGE, mais de 70% da população constituída de negros: um número que se equivalia na época à porcentagem de negros na Bahia.

No ano de 1912 aconteceu uma disputa política partidária que desembocou na perseguição massiva das casas de Xangô do Estado, e a grande maioria delas foi destruída, seus adeptos espancados e Tia Marcelina, dona da casa mais popular de Maceió, foi assassinada.

Após esse evento que desmoralizou e fechou muitas Casas, estabeleceu-se uma proibição permanente de qualquer culto afroalagoano. Por conta do estado de sítio, as casas que sobraram passaram a fazer seu culto em silêncio para não chamar a atenção da população e da polícia (nosso típico Xangô Rezado Baixo que só de alguns anos pra cá vem sempre superado), e outras se mudaram para os Estados vizinhos, local em que hoje, nós alagoanos vamos alienadamente e hipocritamente prestigiá-las dançando um frevo e maracatu ao som do que era nosso... sem saber que era.

O Quebra de Xangô não só acabou com muitas casas religiosas, mas com tudo que tinha ligação direta com a religiosidade afro: maracatus, frevos, blocos de rua, afoxés com seus ijexás e, pasmem, acabou com a afirmativa negra.
Em poucos anos a população que era constituída em sua maioria por negros, passou a ser constituída por brancos (de 70 passamos a 40% de negros).

O que aconteceu? Assassinaram essa população como fizeram com Tia Marcelina? Não, suponho que um genocídio ainda mais perverso assolou a população: o medo e a vergonha de se ver associado a tudo o que era de origem negra, pode ter feito a população se distanciar, inclusive identitariamente, dessa matriz.

Negamos justamente o que nos daria subsídios para ter orgulho de sermos alagoanos. Somos vítimas e algozes dessa situação, e precisamos fazer um esforço para tirarmos essa máscara e começarmos a nos ver e nos tornamos sujeitos ativos de nossa própria história.

(*) É mestra em Psicologia Social e Política
Texto sobre o dia contra a intolerância religiosa publicado no site: http://gazetaweb.globo.com/v2/noticias/texto_completo.php?c=223291.
 

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